A presença das mulheres nas cooperativas
Uma ótima notícia para o mundo do cooperativismo é que o número de mulheres nas cooperativas tem aumentado significativamente. No entanto, quando foi criada a primeira organização desse modelo no mundo, as coisas eram bem diferentes.
A primeira cooperativa moderna surgiu em 1844, em Rochdale-Manchester, na Inglaterra. Na época, um pequeno grupo de 28 operários, a maioria tecelões, procurava uma maneira econômica de atuar no mercado.
Os trabalhadores resolveram então se unir para criar uma válvula de escape frente ao capitalismo. Assim surgiu a Rochdale Quitable Pioneers Society Limited (Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale).
A primeira mulher em uma cooperativa
Apesar das mulheres não serem detentoras de direitos legais ou civis naquele período, uma delas resolveu contrariar as regras. Seu nome era Eliza Brierley, a única operária a fazer parte da associação surgida em Rochdale, conforme informação da revista Mundo Coop.
Sabia-se também que as mulheres eram excluídas da participação econômica igualitária na sociedade. Mesmo assim, Eliza desafiou o sistema e serviu como motivação para outras mulheres dentro desse modelo socioeconômico mais justo e humano.
Segundo consta, foi também uma mulher a responsável por conseguir o local onde o grupo de operários ingleses se reuniam antes da criação da primeira cooperativa. Ela se chamava Ana Tweedale.
Por outro lado, há controvérsias quanto a essas afirmações. Existem vertentes que afirmam que somente Ana Tweedale participou da Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale. Enquanto outros não confirmam a participação de qualquer uma das duas, como é encontrado no site da Ocesp (Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo).
Ainda há a informação de que Eliza teria influenciado a ativista britânica Alice Acland, fundadora da Aliança Cooperativa das Mulheres. A primeira reunião feminina dedicada ao movimento cooperativo, tendo Alice como primeira presidente, aconteceu na cidade de Edimburgo, em 1883.
A mulher no cooperativismo hoje
Já no século 21, as mulheres têm conquistado seu merecido espaço nas cooperativas pelo mundo. Afinal, o mais importante dos 7 princípios do cooperativismo diz que não deve existir discriminação quanto à raça, religião, sexo, classe ou ideologia dentro das organizações cooperativistas. O que expressa os valores de igualdade e liberdade do movimento.
Ou seja, os princípios democráticos oferecem às mulheres a capacidade de terem uma palavra igual à dos homens nas decisões. Assim como a capacidade de assumir funções de liderança nessas organizações.
No Brasil, 48% das vagas de trabalho em cooperativas são preenchidas por mulheres. Mas a relação é baixa quando se trata de cargos de direção. Apenas 24% delas ocupam essa função. Em contrapartida, a cifra de mulheres cooperadas tem crescido anualmente. Hoje, 4,8 milhões de mulheres fazem parte desse movimento, que recebe 14 milhões de pessoas ao todo.
O site da Ocesp cita a professora aposentada da Faculdade de Economia da USP, Diva Pinho. A docente é autora do livro “Gênero e Desenvolvimento em Cooperativas – Compartilhando Igualdades e Responsabilidades”. Ela é considerada uma das precursoras do estudo do cooperativismo na universidade brasileira e atuou por quatro anos à frente do Comitê de Gênero da ACI (Aliança Cooperativa Internacional).
Para Diva, “a maior questão para a maioria das mulheres não é conquistar espaço, mas sim compartilhar em igualdade de condições as responsabilidades com os homens em todos os espaços”. Um pensamento que vale não só dentro das cooperativas, mas também nos demais ramos profissionais.
Mulheres na Baalbek Cooperativa Habitacional
A Baalbek Cooperativa Habitacional, por sua vez, quebra essa máxima de que os homens são maioria em um ambiente de trabalho. Afinal, cerca de 70% do seu quadro de colaboradores são mulheres. Um número que realmente supera a média nacional e que mostra o respeito da cooperativa ao profissionalismo feminino.
Um desses exemplos é a Conselheira Diretora Administrativa Sandra Lopes, que faz questão de salientar que nunca se sentiu discriminada no ambiente de trabalho por parte dos homens.
“Desde que cheguei na Baalbek não passei por isso em nenhum momento. Todos os demais diretores são homens e sempre fui muito bem recebida por eles. Sou bem ouvida. Às vezes, há divergências nas opiniões, mas sempre entramos em um consenso.”
Para Sandra, as mulheres estão conquistando seu espaço dentro das cooperativas: “Eu acredito que elas estejam ganhando seu espaço. Antigamente, as mulheres tinham pouca voz em relação aos negócios. Hoje, a mulher está empreendendo, agregando valor à sua carreira. Apesar de que, nas cooperativas, o número de mulheres na diretoria ainda seja menor”.
Quanto ao expressivo número de participação feminina na Baalbek, a Conselheira Diretora tem sua opinião: “A Baalbek tem uma sensibilidade com o nosso associado, e a mulher tem essa receptividade ao atendê-lo. Além disso, ela tem seu espaço aqui dentro porque ela também mostra sua competência”.
Sandra Lopes conclui falando sobre o futuro das mulheres nas cooperativas: “Como em todo o mercado, as mulheres vão ganhar seu espaço à medida da sua competência. Cada vez mais vai crescer a questão do cooperativismo em relação às mulheres porque, muitas delas, hoje, por não terem um emprego formal, acabam montando algum negócio. Assim, uma vai se associando à outra e o cooperativismo vai surgindo. Tem muitas mulheres no ramo de reciclagem que estão prosperando. Acredito que, no futuro, as mulheres equilibrem com os homens os cargos de diretoria nas cooperativas.”
Mulher no cooperativismo mundial
O site norte-americano Common Share Food Coop apresentou um estudo sobre a participação da mulher em alguns ramos do cooperativismo mundial. A análise tem como base um estudo realizado pelo Comitê para a Promoção e Avanço das Cooperativas (COPAC).
Para o COPAC, mais mulheres têm ingressado em cooperativas de crédito em todo o mundo. O que aumenta seu acesso a recursos e oportunidades financeiras. Além de se tornarem membros de cooperativas financeiras, as mulheres ocupam 65% dos assentos em seus conselhos de administração na Tanzânia, por exemplo.
No setor de cooperativas de consumo, as mulheres estão se apropriando de sua experiência de compra e se tornando líderes dessas organizações. No Japão, elas representam 95% dos membros e ocupam cargos importantes de governança.
Quanto às cooperativas de trabalho, na Espanha, 40% das mulheres ocupam funções de liderança. Porém, em termos globais, elas detêm apenas 24% dos cargos executivos seniores em empresas corporativas. Além disso, 33% das organizações não têm nenhuma mulher em cargos de gerência sênior.
Nos Estados Unidos, as mulheres estão encontrando empregos estáveis e maior qualidade de vida por meio de cooperativas. Destaque para a Cooperative Home Care Associates, uma cooperativa de prestadores de cuidados de saúde domiciliar situada no bairro do Bronx, em Nova Iorque. Segundo consta, cerca de 2 mil pessoas já se juntaram à organização. Dessas, mais de 90% são mulheres e negras.
Outra organização norte-americana que merece respeito nesse cenário é a Prospera. Trata-se de uma cooperativa de trabalhadoras situada na Baía de São Francisco, Califórnia, que promove a cooperação, independência econômica e bem-estar nas comunidades de imigrantes latinos. A Prospera acredita que, quando as mulheres estão na vanguarda das economias locais, comunidades inteiras prosperam.
O estudo conclui que, as mulheres e os homens dentro das cooperativas, unidos, estão fazendo grandes avanços pela igualdade de gênero. Um caminho que precisa ser trilhado diariamente.